Encontro de maio aborda religiões orientais e ocidentais

Para explicar o pano de fundo das perspectivas das religiões ocidentais e orientais, tema central do segundo encontro de 2010 do Núcleo Granja Viana da Fundação Joseph Campbell, o historiador Francisco Handa, monge da comunidade budista Soto Zenshu da América do Sul, falou do período do primeiro grande contato entre Oriente e Ocidente.

Corria o ano de 1549 e o jesuíta Francisco Xavier chegou ao Japão, em sua tentativa de chegar à China – mesmo período, aliás, em que os religiosos da ordem fundada por Inácio de Loyola chegavam ao Brasil onde, pouco mais tarde, fundariam a cidade de São Paulo (1554).

O Japão vivia o período do xogunato – feudalismo baseado nos chefes militares –, movido a muitas guerras internas. Por outro lado, o século XVI foi palco de intenso boom estético, com o desenvolvimento de artes como a cerimônia do chá e a ikebana.

Pouco depois, em 1603, o Japão isolou-se do resto do mundo, permanecendo fechado por quase 300 anos. Novo paralalelo aqui com o Brasil, uma vez que os portos brasileiros também ficaram fechados até a vinda da família imperial, em 1808. No Japão, trata-se do Período Edo (1603 a 1867), no qual o governo expulsa os ocidentais, permitindo apenas a permanência em uma ilha dos holandeses, que tinham intenção comercial e não de catequização, como os portugueses.

Nesses trezentos anos, brota outra forma de cultura. Menos aristocrática, ela propiciará o surgimento das cidades e a consequente ascensão de uma classe burguesa que estimulará novas formas de arte, como o haicai – a poesia tradicional japonesa.

O relacionamento com as demais nações somente será retomado mais tarde, em 1867, sobretudo devido à posição estratégica ocupada pela ilha no cenário asiático. “Com a abertura dos portos, o xogunato chegará ao fim, marcando o início da ocidentalização e modernização japonesa”, explica Handa. Com a queda dos xoguns – os senhores feudais –, o Imperador adquire novamente poder. É o cenário mostrado numa produção hollywoodiana recente, O Ultimo Samurai, estrelada pelo ator estadunidenense Tom Cruise.

Após a abertura dos portos, num primeiro momento o Japão busca no exterior modelos bélicos, que encontra na França e, posteriormente, na Alemanha e Prússia. Logo o encontrará também na poderosa marinha britânica.

Na década de 1930 o país quer entender melhor a mentalidade ocidental. Surge, então, a Escola de Kyoto – grupo de pensadores japoneses que interage com a filosofia alemã, dialogando particularmente com a fenomenologia de Martin Heidegger ( 1889-1976), entre outros. Algumas décadas mais tarde, o japonês Daisetz Suzuki (1870-1966) se tornará o principal divulgador do zen budismo no ocidente. Já no Ocidente, seu contemporâneo, o psiquiatra suíço Carl Gustav Jung (1875-1961), também se dedicará ao tema das religiões orientais, publicando livro sobre o assunto.

Segundo Handa, a década de 1970, com suas grandes mudanças sociais, levará novamente a uma intensificação do diálogo Ocidente-Oriente. “Os ocidentais buscarão o homem interior, desaparecido no Ocidente”, diz Handa. O encontro foi rico, mas paradoxal, uma vez que as religiões orientais, em particular o zen budismo, pregam que a religião não é para ser ensinada, mas vivenciada. “Ela precisa ser incorporada, tem de ser aprendida com a mente e com o corpo. Não basta teorizar”, concluiu.

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