Os símbolos insistem


Envolvidos em tramas que tensionam os limiares do cotidiano com uma perspectiva mais global ou abrangente, somos tocados pelas pesquisas de Joseph Campbell. Se, por cotidiano entendemos a natureza, os vínculos afetivos, o ensino e a pesquisa, por uma perspectiva mais holística sentimos o universo dos símbolos de múltiplas culturas entre os vizinhos dos nossos bairros ou na telas que furam nossas paredes, como as dos computadores.

Ao resgatar narrativas de diversas culturas, em O Herói de Mil Faces, Campbell reúne indícios das histórias de vida ou jornadas de pessoas que ousaram perceber as relações entre o mundo humano do cotidiano e os símbolos que, nas diversas culturas, também expressam o denominado mundo divino.
Estudando os símbolos cultivados repetidamente através de rituais, o mitólogo nos proporciona uma chave da compreensão do mito e do símbolo quando indica que o reino dos símbolos (incluindo os deuses) é uma dimensão esquecida do mundo que conhecemos.

Céticos, abertos ao mundo dos símbolos ou distraídos dessa dimensão humana, somos provocados por Campbell a perceber que algumas pessoas, em diversas culturas, transitam com consciência, dor ou entusiasmo, entre o mundo do cotidiano e o mundo dos símbolos.
E ainda mais, percebem que esses mundos estão misturados quando relacionam suas experiências individuais com uma consciência globalizante, universal, multicultural ou holística.

Céticos ou distraídos percebemos o sentido profundo de práticas cotidianas de lavar louça, abraçar uma pessoa, reciclar os resíduos ou ler um livro. Compreendemos que estas práticas estão ligadas a um universo simbólico mais amplo nos espaços de vinculação humana dos bairros ou nas teias das telas em rede onde também os símbolos insistem em explodir, convocar, narrar, vincular ou provocar.

Pensando nestas questões, céticos, abertos ou distraídos, podemos também reler Ensaio sobre o homem – Introdução a uma filosofia da cultura humana, de Ernst Cassirer (São Paulo: Martins Fontes, 1994) para transitarmos nos limiares de dimensões humanas como mito e religião, linguagem, arte, história e ciência. Ou ainda lembrar a coletânea de artigos organizados por Norval Baitello e outros (São Paulo: Annablume, 2006), com o sugestivo título, Os símbolos vivem mais que os homens.

José Eugenio Menezes
Professor do Programa de Mestrado
da Faculdade Cásper Líbero,
onde integra o Grupo de Pesquisa
Comunicação e Cultura do Ouvir

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